domingo, 27 de março de 2011

Hoje quero deixar um poeminha do meu queridíssimo Carlos Drummond de Andrade. Espero que gostem...

"Balada do Amor através das Idades

Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau
para matar seu irmão.
Matei, brigámos, morremos.

Virei soldado romano,
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois.

Depois fui pirata mouro,
flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata
onde você se escondia
da fúria de meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava,
você fez o sinal-da-cruz
e rasgou o peito a punhal...
Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos)
fui cortesão de Versailles,
espirituoso e devasso.
Você cismou de ser freira...
Pulei muro de convento
mas complicações políticas
nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno,
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco.
Você é uma loura notável,
boxa, dança, pula, rema.
Seu pai é que não faz gosto.
Mas depois de mil peripécias,
eu, herói da Paramount,
te abraço, beijo e casamos."

Carlos Drummond de Andrade, em 'Alguma Poesia'

domingo, 20 de março de 2011

Olá

Hoje eu darei uma passada rápida porque a faculdade já está consumindo todo o tempo que eu nem tenho.
Quero divulgar um blog novo, criado pela minha querida prima. É um blog dedicado ao estudo da língua inglesa. Muito bom, vale a pena conferir. Novinho em folha, saindo do forno.


Confiram!!

Beijos

domingo, 13 de março de 2011


Oi gente,
Não deu para postar nessas duas últimas semanas devido a questões de ordem pessoal.
Hoje eu gostaria de reproduzir um texto que eu li esses dias. Espero que gostem.

"Além do Horizonte

Faça uma pequena experiência e descubra como as coisas são. Ao menos como imaginamos que possam ser. Num fim de tarde, com seu período de trabalho concluído, dê um giro completo sobre os calcanhares e num raio de quilômetros considere tudo o que pode estar ocorrendo.
Pessoas estão conversando sobre as mais diversas questões e reagindo a elas das mais diferentes maneiras: entusiasmo, tristeza, indignação ou indiferença, a pior delas. Outras, solitárias como você no interior de uma sala, poderão estar pensando no que pensam as demais.
Numa frequência que seus olhos não captam - enxergamos o mundo pela fresta da luz visível - passam pulsos curtos e manifestam-se fluxos constantes de energia. Boa parte proveniente das profundezas do espaço e do tempo: emissões de choques de estrelas de grande massa, ou radiação remanescente da criação do Universo há mais de 13 bilhões de anos, calor que sobrou da fogueira cósmica que banha o Cosmos inteiro. Tudo misturado - como numa receita exótica de uma cozinheira que perdeu a razão - a emissões das proximidades.
Parte delas no infravermelho, de menor energia, liberada entre outras fontes pelo calor dos corpos de pessoas que acabaram de deixar a sala onde você está.
Se fosse possível enxergar no infravermelho próximo, frequência próxima da luz visível, você teria os olhos grandes com que ufólogos descrevem supostos alienígenas surpreendidos em incursões dissimuladas na Terra.
Mas nosso olho foi pacientemente esculpido pelo Sol, embora uma ideia como esta possa parecer um pouco surpreendente. Eles são detectores biológicos para o registro da energia emitida/refletida por uma estrela amarela de meia-idade. Se fosse uma estrela vermelha e envelhecida, nosso olho seria maior.
Também nosso corpo é urdido por uma relação íntima, neste caso a gravidade da Terra. Se a Terra fosse maior, ou mais densa, as formas curvilíneas que as mulheres exibem nas ruas abaixo de sua sala de trabalho seriam soluções mais pesadas.
Ou nunca ocorreu a você que os membros delicados de uma gazela, mesmo ampliados, não sustentariam o corpanzil de um elefante?
Se a Terra fosse menor, ou menos densa, as patas pesadas dos elefantes é que não teriam razão de ser.
Os elefantes teriam outras formas, mais próximas de uma girafa. Na Lua, hipoteticamente, girafas seriam mais naturais que elefantes, ainda que essa comparação também tenha sua dose de estranhamento.
Você pode ficar absolutamente tomado pela beleza do mundo, livrar-se da névoa que encobre nossa visão da enorme riqueza do cotidiano e com isso transformar-se num outsider, um estranho no ninho, se você preferir. Não porque você seja um alienado, mas justamente porque, em boa parte, deixou de ser.
As promessas e o preço a ser pago por incursões capazes de ampliar o espaço do cotidiano serão tanto crédito quanto débitos na sua contabilidade diária."

Trecho do Editorial da revista Scientif American Brasil, edição de fevereiro de 2011. Exrito pelo editor-chefe Ulisses Capozzoli.