domingo, 13 de março de 2011


Oi gente,
Não deu para postar nessas duas últimas semanas devido a questões de ordem pessoal.
Hoje eu gostaria de reproduzir um texto que eu li esses dias. Espero que gostem.

"Além do Horizonte

Faça uma pequena experiência e descubra como as coisas são. Ao menos como imaginamos que possam ser. Num fim de tarde, com seu período de trabalho concluído, dê um giro completo sobre os calcanhares e num raio de quilômetros considere tudo o que pode estar ocorrendo.
Pessoas estão conversando sobre as mais diversas questões e reagindo a elas das mais diferentes maneiras: entusiasmo, tristeza, indignação ou indiferença, a pior delas. Outras, solitárias como você no interior de uma sala, poderão estar pensando no que pensam as demais.
Numa frequência que seus olhos não captam - enxergamos o mundo pela fresta da luz visível - passam pulsos curtos e manifestam-se fluxos constantes de energia. Boa parte proveniente das profundezas do espaço e do tempo: emissões de choques de estrelas de grande massa, ou radiação remanescente da criação do Universo há mais de 13 bilhões de anos, calor que sobrou da fogueira cósmica que banha o Cosmos inteiro. Tudo misturado - como numa receita exótica de uma cozinheira que perdeu a razão - a emissões das proximidades.
Parte delas no infravermelho, de menor energia, liberada entre outras fontes pelo calor dos corpos de pessoas que acabaram de deixar a sala onde você está.
Se fosse possível enxergar no infravermelho próximo, frequência próxima da luz visível, você teria os olhos grandes com que ufólogos descrevem supostos alienígenas surpreendidos em incursões dissimuladas na Terra.
Mas nosso olho foi pacientemente esculpido pelo Sol, embora uma ideia como esta possa parecer um pouco surpreendente. Eles são detectores biológicos para o registro da energia emitida/refletida por uma estrela amarela de meia-idade. Se fosse uma estrela vermelha e envelhecida, nosso olho seria maior.
Também nosso corpo é urdido por uma relação íntima, neste caso a gravidade da Terra. Se a Terra fosse maior, ou mais densa, as formas curvilíneas que as mulheres exibem nas ruas abaixo de sua sala de trabalho seriam soluções mais pesadas.
Ou nunca ocorreu a você que os membros delicados de uma gazela, mesmo ampliados, não sustentariam o corpanzil de um elefante?
Se a Terra fosse menor, ou menos densa, as patas pesadas dos elefantes é que não teriam razão de ser.
Os elefantes teriam outras formas, mais próximas de uma girafa. Na Lua, hipoteticamente, girafas seriam mais naturais que elefantes, ainda que essa comparação também tenha sua dose de estranhamento.
Você pode ficar absolutamente tomado pela beleza do mundo, livrar-se da névoa que encobre nossa visão da enorme riqueza do cotidiano e com isso transformar-se num outsider, um estranho no ninho, se você preferir. Não porque você seja um alienado, mas justamente porque, em boa parte, deixou de ser.
As promessas e o preço a ser pago por incursões capazes de ampliar o espaço do cotidiano serão tanto crédito quanto débitos na sua contabilidade diária."

Trecho do Editorial da revista Scientif American Brasil, edição de fevereiro de 2011. Exrito pelo editor-chefe Ulisses Capozzoli.

Um comentário:

Arthur disse...

Acho que estou apaixonado pelo seu texto.

Porém ironicamente, apesar de eu sempre pensar como um "Outsider" ontem a noite concluí que quanto menos eu soubesse, e mais "normal" fosse eu seria mais feliz no mundo, me relacionaria melhor com as pessoas ordinárias, teria mais amigos.

Nada é de graça, tudo tem um preço a ser pago.